por um novo espaço de cultura

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16-04-2009 15:19

Atendendo à história da fábrica e das técnicas têxteis, à sua importância para o desenvolvimento social e económico da região e do país e ao seu valor arquitectónico, entreguei, no IGESPAR, um pedido de instrução do processo de classificação da Fábrica Simões.

 

Apesar da fábrica ter sido alvo de actos de vandalismo, o edifício mais antigo mantém valor arquitectónico e estético. Pela investigação realizada e atendendo à opinião publicada por vários especialistas (arquitectos e historiadores), considero que os valores de memória, de antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade e de identidade que a fábrica tem e representa como ícone visual da cidade, justifica a sua protecção, classificação e posterior reabilitação. As pesquisas realizadas e a documentação encontrada recentemente comprovam claramente a importância da fábrica na história da cidade, da tecnologia dos têxteis, da moda e o seu valor arquitectónico.

 

Por outro lado, a empresa fundada em 1907, por José Simões, autodidacta que foi operário têxtil, adoptou, desde cedo, um sistema de segurança social eficaz para os seus trabalhadores e a sua obra social e económica merecem um maior reconhecimento na actualidade, através da preservação da fábrica.

 

A empresa introduziu em Portugal tecnologia importada inovadora, criou e fabricou máquinas para a produção têxtil, chegou a ter mais de 1500 trabalhadores, desempenhou um papel importante na fixação de pessoas e serviços em Benfica, a partir do início da década de 1920.

 

A fábrica produzia para o mercado nacional e para exportação, teve sempre capitais nacionais, entrou em processo de falência a seguir ao 25 de Abril e fechou em 1987.

 

Hoje, existe o projecto de urbanização "Villa Simões" para a área ocupada pela antiga unidade fabril, da autoria do arquitecto Jorge Matos Alves. Este projecto contém ilegalidades que lesam o interesse público, como por exemplo, o incumprimento dos afastamentos que as novas construções devem ter dos edifícios escolares (Decreto-Lei nº 37575).

 

Por outro lado, a fábrica localiza-se na Avenida Gomes Pereira, numa zona da cidade de forte pressão urbanística e de tráfego rodoviário intenso. O anterior projecto apresentado pela empresa "Rodrigues & Figueiredo", não aprovado pelo Presidente da CML, Dr. Jorge Sampaio, incluía a construção de um túnel, pago pela firma, para resolver o problema do aumento da poluição e de trânsito previstos com a construção do referido empreendimento habitacional e comercial.

 

O proprietário da antiga fábrica Simões é a TDF Sociedade Gestora de Fundos de Investimentos Imobiliários (Teixeira Duarte), desde 1990.

 

A 16 de Maio de 1996 a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou o Plano de Pormenor do Eixo Urbano Luz–Benfica (PPEULB) coordenado pelos arquitectos Frederico George e Pedro George. Este projecto, publicado no Diário da República de 24 de Março de 1997, encontrava-se em conformidade com o Plano Director Municipal de Lisboa de 1994, sendo o seu principal objectivo disciplinar a ocupação, o uso e a transformação na sua área de intervenção. A delimitação desta superfície incluía a Avenida Gomes Pereira, onde se encontra edificada a unidade fabril conhecida por Fábrica Simões. De acordo com o PPEULB os bens a integrar a carta de património municipal e a manter, por avaliação do inventário municipal do património, eram a Quinta da Granja de Cima, o Edifício da Junta de Freguesia, a Escola Secundária de Benfica (Escola Secundária José Gomes Ferreira), o Edifício da Escola Superior de Educação, a Quinta da Granja de Baixo, o Edifício do Instituto Superior de Comunicação Social, um Palacete do Século XVIII, sito na estrada de Benfica 526/531 e o Edifício da Fábrica Simões.

 

Em 1998 o arquitecto Pedro George surgiu como projectista do loteamento Villa Simões, previsto para a área da fábrica. Segundo a Arquitecta Maria João Sobral este arquitecto, autor do Plano de Pormenor do Eixo Urbano Luz–Benfica (PPEULB) que previa a manutenção de todos os edifícios da fábrica Simões, «informou verbalmente os Serviços que por erro de desenho se indicou todo o conjunto, mas que esta classificação se refere unicamente ao edifício com frente para a Avenida Gomes Pereira, dada a falta de interesse arquitectónico dos edifícios fabris.» O arquitecto apresentou documentos com declarações erradas e ridículas nos serviços da CML, referentes à fábrica, para demonstrar a falta de interesse dos edifícios fabris.

 

O actual projecto abandonou a ideia do túnel e reduziu a volumetria que continua elevada, mas mantém a ilegalidade referida e existem irregularidades como, por exemplo, o afastamento necessário da propriedade da Junta de Freguesia de Benfica e a não concordância de empenas entre um dos edifícios do empreendimento e o antigo quartel dos bombeiros (actual Casa do Bombeiro).

 

A imprensa nacional refere a abertura de uma estrada pública nos terrenos desocupados das escolas da Quinta de Marrocos, Pedro Santarém, Secundária José Gomes Ferreira, jardins infantis e escolas superiores, para viabilização da referida urbanização. Esta estrada retira a escolas espaços verdes e outras áreas que futuramente podiam ser ocupadas por equipamentos escolares.

Por exemplo, a Escola Básica 2,3 Pedro Santarém deixará de ter espaços verdes e perderá áreas que no futuro poderiam ser ocupadas com equipamentos escolares.

 

A Fábrica Simões tem valor patrimonial reconhecido no Inventário do Património do Plano Director Municipal de Lisboa.

 

Numa zona de escolas com milhares de alunos, na segunda maior freguesia de Lisboa em número de habitantes e que não dispõe de biblioteca municipal e de outros equipamentos sociais e culturais, não se compreende ao longo dos anos o desinteresse manifestado por este espaço pelos últimos e actuais executivos da Câmara Municipal de Lisboa e Junta de Freguesia de Benfica. Mais incompreensível se torna uma vez que o vogal da Assembleia de Freguesia, Sr. Filipe Manuel Pereira Nunes Beirão, que foi responsável pelo Pelouro do Desporto e da Juventude, até há poucos meses atrás, é responsável pela exploração do espaço da antiga fábrica há vários anos.

 

Com esta exposição pretende-se alertar os responsáveis políticos locais para o facto da destruição deste património histórico que é a Fábrica Simões, lesar o interesse público, piorar a qualidade de vida em Benfica, destruir a identidade do lugar e apagar parte da história local. O edifício antigo da Fábrica Simões devia ser salvaguardado e reconvertido para ser fruído pela cidade como biblioteca municipal ou outros equipamentos sociais e culturais.

Lisboa, 13 de Janeiro de 2009

 

Adriano Pinto Coelho

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